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(...) Mal saí de casa, a minha mãe engravidou. Eu tinha quinze anos quando Zoé veio ao mundo e a vida, poço sagrado ao qual a minha irmã deve o nome de origem grega, retomou o seu curso. A minha cura, que mais parecia um milagre, a gravidez da minha mãe, surpreendente na sua idade, toda esta barafunda em que se misturavam os deuses, os templos, as igrejas, as nossas angústias, os nossos segredos de família...Tudo isto contribuiu para me perturbar o espírito. Nada me parecia muito claro. Portanto, depois do liceu, comecei a estudar Medicina. Tinha contas antigas a saldar. Porque me declararam doente com leucemia? Como foi possível este tipo de erro? Continuou a não me parecer claro. Opacidade perfeita. Comprimidos, exames ao sangue, perfusões, scanner, Doppler, IRM, não havia nada de humano nas nossas maneiras de proceder e eu recordava os velhos curandeiros que se serviam, de plantas em regiões pobres, mas com um saber bem fundamentado. Os homens que me haviam curado não possuíam água corrente, mas procuravam em primeiro lugar compreender-me, a mim e às minhas miseráveis perturbações de menino mimado.
O Sangue do Mundo
Catherine Clément
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