www.wook.pt
Junho, final de tarde. No consultório abafado de paredes cinzentas o médico pigarreou e preparou-se para representar a cena que conhecia de cor.
- Não há dúvida. Estas grávida. Diria que de cerca de cinco meses.
A rapariga não respondeu. Na verdade, era muito pouco provável que ainda não soubesse.
- Por isso, nada de deixar de comer. Tens de manter as forças. Afinal de contas, tens que comer por dois.
Ela continuou sem responder. Ele recostou-se na cadeira a estudá-la. Ela era linda: cabelo loiro arruivado, traços delicados, olhos de um azul-pálido e sem aliança. A mão pequena esfregava o lábio inferior. A blusa branca e a saia pelo joelho faziam-na parecer a criança que ainda era. O seu nome era Anna Sidney e estava a três meses de completar dezassete anos. Ele lera tudo isso na ficha dela. E outras coisas também.
- O pai é soldado?
Um gesto de assentimento.
- Ainda cá está?
- Não.
- Sabes onde ele está?
Pausa. A mão continuava a esfregar o lábio. - Não.
Ele abanou a cabeça, conhecendo bem a história. Rapariga ingénua e ávida de romance conhece soldado assanhado de falinhas mansas e, seduzida, perde a virgindade e muito mais. Alguém tinha-lhe dito uma vez que uma mulher aprendia a desejar o homem que a amava, ao passo que um homem aprendia a amar a mulher que desejava. Só que a alguns homens custava-lhes muito a aprender.
A Menina dos Meus Olhos
Patrick Redmond
Sem comentários:
Enviar um comentário