A cruz verde apareceu ao fundo da Rua Comandante Aniceto do Rosário assim que Joaquim Peixoto virou a esquina.
Como já lhe acontecia desde há uns tempos sempres que via um sinal de farmácia, estremeceu-lhe ligeiramente o coração no peito, e as mãos crisparam-se-lhe dentro dos bolsos.
Reteve a respiração por uma fracção de segundo, à espera que lhe passasse o prenúncio de tontura que costumava visitá-lo com frequência quando aparecia no seu campo de visão uma cruz verde com uma serpente ao centro, recortada contra um círculo branco.
As farmácias eram o sítio dentro do qual existia o Paxilfar.
Quando foi inicialmente lançado no mercado, o Paxilfar era considerado um simples analgésico para crises agudas. Até se comprava sem receita. Joaquim Peixoto ainda se lembrava de entrar sem qualquer sobressalto na farmácia Corvelo da Rebelva e pedir em voz alta, diante de toda a gente, uma caixa de Migraleve e três caixas de Paxilfar. O senhor Ambrósio sorria, alinhava os medicamentos solicitados em cima do balcão, ia conversando com ele disto e daquilo, metia tudo num saquinho, e no fim entregava-lhe a factura e o troco.
A Arma dos Juízes
de Clara Pinto Correia
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