- Havias de ver as gaivotas lá fora, Mariana. Voam como doidas sobre os barcos! O Mosquito disse-me uma vez que elas nunca chegam perto do barco do Fincão. Pudera! Ele pintou um olho grande, grande na madeira e elas têm medo. Lá vem o Vicente, da taberna. Vem a dançar pela estrada...Daqui a pouco está na praia a fazer a sesta ao pé das redes. Sabes, Mariana, eu tenho um bocado de medo do Vicente. Ele chama Ruço de4 Mau Pêlo e depois diz coisas esquisitas, sempre a olhar para mim com os olhos tão vermelhos que parece que estão a chorar!
- Vermelhos, como as rosas que tu trazes do quintal da vizinha, e como a língua, e os telhados, não é, Gaspar?
- É. Mas mais brilhantes, assim como se tivessem uma luz por trás.
Então tu não disseste que a luz é amarela como o Sol, que põe quente no braço, e como a lua?
- Disse. Só que eu esqueci-me de dizer que a Lua não tem brilho. É quase como um queijo, redondinho, e às vezes faltam-lhe os pedaços; mas não brilha, não faz piscar os olhos. É assim quietinha, quase branca, parece que não mexe.
Gaspara e Mariana
de Maria Teresa Maia Gonzalez
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