terça-feira, 9 de dezembro de 2014

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  (...)
  Assim, sem saber como.
  Sem saber como. Mas o certo é que a Dulce anda ultimamente com pressentimentos, a sensação de ser perseguida, de algum perigo...
  Quase ia jurar que alguém a tinha empurrado. Ia a descer as escadas do prédio. No escuro - a lâmpada no patamar seguinte estava fundida - sentiu uma pressão entre as omoplatas e uma espécie de joelhada na dobra das pernas. Mas a Maria vinha atrás dela e não tinha visto nada nem ninguém. Um terceiro andar sem elevador, comentou-se na vizinhança, era o que dava. Claro, uma senhora da idade da Dulce já não tinha a mesma agilidade de uma menina como a Maria. Não admirava nada que se tivesse desequilibrado. Ainda por cima, as lâmpadas nas escadas andavam sempre a fundir-se.
  - Foi uma sorte, que podia ter-se matado - diz mais uma vez a Ivone. E, realmente, a Dulce já tem uma certa idade.
  - Não é assim ágil como nós, pois não, Maria?
  A Ivone nunca perde uma oportunidade de lembrar que, realmente, é muito mais nova do que a sua amiga e antiga colega Dulce. Fá-lo sem malícia, sem segundas intenções, arregalando os olhos inocentes mas carregados (é do rímel, que usa sempre; sem cosméticos, o olhar da Ivone seria fresco e pueril como o de uma criança).
Uma Casa Muito Doce
Ana Saldanha

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