quarta-feira, 5 de junho de 2013

Livros da nossa biblioteca

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      Seguia num taxi, interrogando-me se não estaria demasiado bem vestida, quando olhei pela janela e vi a minha mãe a remexer num caixote do lixo. A noite acabara de cair. O tempestuoso venti típico do mês de Março chicoteava o vapor que saía das tampas de esgoto e, nos passeios, as pessoas estugavam o passo com a gola dos casacos viradas para cima. Eu estava presa no trânsito a dois quarteirões do local da festa para a qual me deslocava.
   A minha mãe estava ali, a uns cinco metros de distância. Tinha uns trapos atados em volta dos ombros para se proteger do frio e vasculhava o lixo, enquanto o seu cão, um Terrier preto e branco, brincava junto aos seus pés. Os gestos da minha mãe eram-me todos familiares, a forma como inclinava a cabeça e esticava o lábio inferior enquanto estudava os objectos que pudessem ter algum valor, e o modo como os seus olhos se iluminavam, com um brilho quase infantil, quando descobria algo de que gostava. O seu cabelo comprido começava a ficar grisalho, parecia sujo e emaranhado, e os olhos estavam mais encovados, mas ainda me fazia lembrar a mãe que havia sido outrora, quando eu era miúda, a mãe que dava saltos de anjo para a água de cima dos penhascos, que pintava no deserto e lia Shakespeare em voz alta.
O Castelo de Vidro
Jeannette Walls 

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