sexta-feira, 7 de junho de 2013

Livros da nossa biblioteca

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   Há um vento daqueles, carregado de poeira, quente, tenso. Nada que a noite não desfaça à medida que as luzes dos carros desaparecem a caminho de Coimbra, ou numa curva, ou atrás de uma pequena duna de vegetação. Não é uma questão de trânsito, de tráfego automóvel: basta que o tempo passe, que a noite avance, que o mar acalme. À meia-noite de 26 de Maio de 1973, a Ilha de Luanda está às escuras depois de os últimos carros terem abandonado a estrada que vai até ao limite daquela língua de areia. Devagar, abandonaram a estrada. É uma quinta-feira de Maio, a ilha é uma restinga cinzenta diante do mar, batida pelo vento, abrigando as cabanas da praia e as casas com coqueiros e um jardim nas traseiras. E há um silêncio de mar à volta, as janelas entreabertas. Meia-noite é muito tarde, demasiado tarde, uma luz frouxa que não chega à areia nem deixa identificar os risos que vêm de dentro, misturados com o tilintar dos copos, um arrastar de cadeiras, cheiro de castanha de praia, folhas de coqueiro, relâmpagos que riscam o céu da baía e se reflectem por instantes nos vidros do carro azul-claro estacionado diante do bungalow, ao lado de uma Vespa encostada a um coqueiro.
Longe de Manaus
Francisco José Viegas

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